sábado, 6 de setembro de 2014

Um dia de Catraieiro

Por: Aldo Cézar

Catraieiro levando pescador ao barco Foto: Heldene Santos.
O catraieiro é um importante profissional da pesca. É ele o responsável por guiar a catraia, um instrumento de navegação, que leva os pescadores até seus barcos e que também os trazem de volta, após a pesca. Uma característica marcante do catraieiro é o equilíbrio para se manter em cima da catraia desafiando o balanço do mar.

A hora de trabalho do catraieiro depende sempre do horário da equipe da pesca. É comum os pescadores saírem para o mar na madrugada ou no finalzinho da tarde. Quando a equipe fica pronta, o catraieiro desce a catraia até a água e usando de uma vara grande, chamada de vara de catraia, começa a boiar a catraia e a empurrar na direção que quer ir usando essa vara.

A vara de catraia é sempre bem longa. Os barcos de pesca ficam ancorados há uma certa distância da praia e a vara deve ter sempre uma altura que a catraia vá até o barco e a vara ainda toque com a ponta no chão embaixo da água, pois só assim o catraieiro vai poder empurrar a vara para trás e a catraia seguir para frente.

Também é o catraieiro que já fica de plantão no horário combinado para pegar os pescadores de volta quando voltarem da pesca. Dessa vez mais pesado, porque tem que trazer os pescadores e os cestos com peixes. Esse não é o trabalho mais difícil da pesca, mais se torna mais complicado quando o catraieiro tem que enfrentar as marés mais altas, as ondas mais fortes.

A arapuca

Por: Amara Gomes

Imagem de uma Arapuca.
A arapuca é uma armadilha muito antiga. Antes se usava muito, mas hoje em dia não é muito utilizada. A arapuca é feita de ripas e arame, o formato da arapuca é meio arredondada quase igual a uma oca (casa de índio) e às vezes tem o formato de uma pirâmide. Segundo Vieira, antigo caçador, quem usava ou usa era os caçadores e os índios, para pegar pássaros ou outros tipos de animais de pequeno porte. 

É importante saber que a arapuca pode ser feita de vários tamanhos. Pequena, quando é usada para pegar aves ou animais pequenos, e grande, quando é para capturar animais maiores como veados, porcos do mato, entre outros animais, dependendo da região. 

Vieira, antigo caçador, conta que a Arapuca foi e é de grande importância para a economia das comunidades. Além de por muito tempo ter sido uma das poucas alternativas de muitas famílias comerem carne, ainda se captura animais para vender a carne e, quanto maior o animal, melhor para o consumo e para a venda. Mas vale ressaltar que a caça, em muitos casos, é um ato ilegal. 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Núcleo de participação e desenvolvimento dos adolescentes: jovens em ação

Por: Amara Gomes

Logo do NUCA de São Miguel do Gostoso/RN
O Núcleo de Participação e Desenvolvimento Social d@s Adolescentes, ou NUCA, é um espaço de diálogo dos adolescentes que tem a missão de contribuir com a participação social dos adolescentes da cidade, como explica Edson Gomes, agente da ONG AMJUS que foi o fundador e ex-coordenador do NUCA de São Miguel do Gostoso. 

A iniciativa de mobilização para criação de NUCAs foi da Agência Selo Unicef que, no final de 2011, realizou um Encontro de formação para criação dos NUCAs nos municípios do RN. Desse encontro, com o apoio da Prefeitura, participou Heldene Santos, na época um dos mobilizadores do Selo Unicef no município, dois adolescentes que foram Edson Gomes e Gercinara Silva, e Elba Teixeira, na época articuladora do Selo Unicef.

Mas só em março de 2012, foi que conseguiram criar o NUCA de São Miguel do Gostoso que, segundo Edson Gomes, a demora foi porque esperavam uma capacitação que iria ser realizada pelo Instituto de Juventude Contemporânea que não aconteceu e só veio acontecer a partir dessa data, depois que os jovens pediram o apoio da Associação de Meio Ambiente, Cultura e Justiça Social (AMJUS) para a formação do NUCA acontecer e então a ONG realizou o processo de formação e um conjunto de oficinas com apoio da Fundação Luterana de Diaconia.

A primeira bandeira de luta do NUCA, segundo explica Irene Lima, também ex-coordenadora do NUCA, foi desenvolver uma campanha pela saúde do adolescente, relacionado à prevenção às DSTs/AIDS e Hepatites Virais entre os jovens. Para isso articulou ações, pessoas e organizações para que as ações acontecessem.

Equipe do NUCA em atividade
O NUCA já recebeu várias capacitações pela AMJUS. A principal delas está relacionada com o tema da sua bandeira de luta. Através da AMJUS o NUCA recebeu assessoria da especialista em sexualidade humana Ildete Mendes, do Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e colaboradora da ONG Canto Jovem. Mas ainda assim a participação dos adolescentes nas coisas mais sérias ainda estava sendo difícil e uma das reivindicações do NUCA para o Selo Unicef, foi que tornasse obrigatório a participação dos adolescentes nas campanhas pelo Selo Unicef, sendo que isso veio acontecer na edição 2014 – 2016.

Atualmente a participação dos adolescentes a partir do NUCA tem se fortalecido bastante nas ações do município, das ONGs e na ações mobilizadas pelo próprio NUCA, como mutirões de conscientização e o abraço da Lagoa com apoio de outras organizações. “Nós temos vários projetos e queremos motivação e apoio para realizar”, diz Mateus Eduardo, atual coordenador do NUCA. “Só queremos ser levado a sério, queremos ajudar na realização dos outros grupos e também queremos a colaboração para fazer nossas ideias acontecerem pelos adolescentes, inclusive nisso, agradecemos muito à AMJUS”, diz ele. O NUCA de Gostoso já começa a ser articulado por outros municípios para ajudar a criar os NUCAS nesses outros municípios.

EMANCIPAÇÃO POLITICA DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

Por:  Valdilene Gomes

Cerimonia de posse do primeiro prefeito de São Miguel do Gostoso/RN
Nesta edição do Alô Galera resolvemos lançar essa matéria sobre como se deu o processo de emancipação política do município de São Miguel do Gostoso. Para a redação dessa matéria contamos com a colaboração de um grande protagonista desse processo, duas semanas antes do seu falecimento há mais de um ano, quando teria saído a 3ª edição do Alô Galera, o professor José Ferreira Gomes, que nos conta como isso aconteceu.
Segundo o Sr. José Ferreira Gomes, o processo de emancipação de São Miguel do gostoso aconteceu devido à insatisfação dos moradores com as administrações dos prefeitos de Touros, e conta que o município só era lembrado em tempos de eleições, pois já tinha uma boa quantidade de eleitores.

Devido a tanta insatisfação da comunidade, um grupo de moradores começou a luta pela emancipação - grupo no qual o Sr. José Ferreira era uma das lideranças. Para fortalecer essa luta, segundo conta José Ferreira, aconteceram duas tentativas de candidatos a eleições, uma delas foi a Dona Isabel Teixeira Neri, candidata a vereadora, mas não conseguiu se eleger. Com isso o processo teve uma parada, voltando a apenas na campanha política de 1990, quando aconteceu a segunda tentativa, onde o candidato a deputado estadual o Sr. Aroldo Torquato da Silva prometeu lutar pela emancipação política, porém também não conseguiu sua eleição para a Assembleia Legislativa do Estado.
No dia 29 de Outubro de 1991, recebemos a visita do deputado estadual Tarcílio Ribeiro, conta Sr. José Ferreira, que ofereceu ajuda aos moradores na luta pela emancipação, realizando assim a primeira reunião na Igreja Católica, com a presença da população. Em meio a várias discussões foram explicadas todas as fases que o processo exigia, como a situação econômica do município, o número de habitantes etc. Através disso foi realizado um abaixo-assinado onde constava com mais de trezentas assinaturas.
Depois disso, e com todos os dados prontos, isso devido ao empenho e a ajuda de grupos da comunidade. Foi dado assim o pontapé inicial com o Sr. José Ferreira que foi até Natal, de carona, reforça ele, para entregar ao Deputado Tarcílio Ribeiro os dados exigidos, e assim darem entrada junto à Assembleia Legislativa do Estado a um processo legislativo sobre a questão. Em Fevereiro de 1993 a comunidade recebeu a noticia de que o plebiscito de emancipação teria sido marcado para Março do mesmo ano. “Lembro como se fosse hoje”, diz ele.

No dia 14 de Maio de 1993, o então juiz da comarca de Touros, Dr. Jarbas Antonio Bezerro, com sua equipe, vieram até São Miguel para realizar o plebiscito, colhendo a opinião dos moradores sobre a ideia do até então vilarejo de pescadores ganhar a sua emancipação política. Compareceram ao pleito do plebiscito 698 eleitores, no entanto 686 votaram a favor da emancipação, e apenas 12 foram contra. Tendo a certeza de que a população queria a emancipação, foi publicado no dia 16 de Julho de 1993 no diário oficial do Estado, a Lei Estadual de nº 4.452, de 16 de Julho de 1993, que emancipava o distrito de São Miguel de Touros. 

Imagem aérea de São Miguel do Gostoso/RN
Mas tiveram que esperar ainda até 1996, devido a algumas dúvidas quanto a continuidade do processo, quando finalmente foi realizada a primeira eleição para prefeito e para vereadores. Até então São Miguel de Touros, a cidade teve como primeiro prefeito o Sr. João Wilson Neri, e o vice-prefeito Sr. Valdir Barbosa da Silva. Para a Câmara Municipal foram eleitos nove vereadores: Aroldo Alves da cruz, Francisca Gomes Pinheiro, Geraldo Menezes da Silva, Luciano Martins da Silva, Luiz Julião Ribeiro, Paulo Roberto de Oliveira Lopes, Ronaldo Rodrigues da Silva, Severino Domingo Ferreira e o próprio José Ferreira Gomes, que foi o primeiro presidente na história do poder legislativo.
Mesmo com tantas conquistas a população ainda não estava satisfeita e, após contínua reivindicação, no dia 19 de Novembro de 2000, foi realizado um plebiscito com o objetivo de mudar o nome da cidade de São Miguel de Touros para São Miguel do Gostoso, como a comunidade já era conhecida, nome originado, segundo contam antigos moradores, devido a um senhor morador da vila de pescadores, que contava muitas historias e tinha uma risada muito gostosa. 

Assim, como explica José Ferreira, em 05 de Maio de 2001, o Diário oficial do Estado do Rio Grande do Norte, publicou a lei 7.938 de 04 de Maio de 2001, sancionado pelo governador, o Sr. Garibaldi Alves, onde no seu artigo 1º, lê -se: “O município de São Miguel de Touros, criado pela lei 6.452/93, passará a partir dessa data a denominar-se São Miguel do Gostoso.

Pode até parecer simples pra algumas pessoas, mas a luta pela emancipação de São Miguel do Gostoso é um marco que permanecerá eterno na mente de alguns moradores, como assim conta o Sr. José Ferreira que levou ao tumulo e que ninguém nunca vai poder lhe tirar, a honra de ter sido o primeiro presidente da câmara e de ter dado posse ao primeiro prefeito de São Miguel do Gostoso.        

Salve! Salve à Lagoa do Cardeiro: beleza e natureza

Por: Tetsy Caroline

Grupos sociais de São Miguel do Gostoso/RN, fazendo o abraço à lagoa
Considerada como um dos patrimônios naturais mais lindos de São Miguel do Gostoso, a lagoa do cardeiro está localizada nas proximidades da Praia do Cardeiro e tem esse nome devido está situada em uma área, que segundo os pescadores mais antigos, havia uma enorme quantidade de pés de cardeiro (um tipo de cacto da região), e por ter um desses vegetais em especial à beira-mar, que se recusava morrer mesmo com as violentas ondas que o banhava. Assim se originou o nome da praia e o da lagoa que está localizada no mesmo área.

A Lagoa do Cardeiro, pelas suas características, é classificada como patrimônio natural da comunidade. E a vegetação de restinga existente nas margens da Lagoa é também, por Lei, área de preservação permanente (APP), e de acordo com o Código Florestal as construções ao redor de uma APP deve ser há pelo menos 30 metros de distância contando a partir de sua margem.
Como um ato simbólico, a partir de uma mobilização de ONGs e grupos, foi criado o abraço à Lagoa do Cardeiro. As ONGs e grupos se reúnem anualmente para realizarem esse abraço á lagoa. O abraço foi motivado pelos permanentes avanços de cercas e de construções ao redor da Lagoa que vem acontecendo nos últimos tempos. A população parece esquecer disso, que o acesso a Lagoa é direito de todos por ser patrimônio de todos, que sua vegetação no entorno é de preservação permanente e que acolhe diversos tipos de vida como algumas espécies de caranguejos e pássaros entre outras espécies de pequenos animais. 

Como as ONGs e os grupos não tem o poder de fiscalização assim como órgãos do poder público, tipo o IDEMA (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) e Secretarias de Meio Ambiente, apela para a educação e sensibilização, sendo o abraço a Lagoa do Cardeiro um momento especial com esse objetivo.